SAÚDE PÚBLICA

Dengue sem controle

Disparada de casos em várias partes do País e baixa adesão à vacina fazem com que o cenário de descontrole ameace a estrutura de atendimento

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JC

Publicado em 30/04/2024 às 0:00
Notícia

No duelo entre a saúde pública e a doença, o mosquito continua vencendo, no Brasil. Em diversos estados, a situação é alarmante, sobrecarregando os sistemas público e privado de atendimento, elevando o risco de agravamento em pacientes que poderiam não estar com a enfermidade, se as medidas de precaução tivessem sido efetivas. Já são mais de 4 milhões de casos prováveis, e quase 2 mil mortes em decorrência da arbovirose causada pelo Aedes aegypti em todo o território nacional – e não há perspectiva de redução, se depender da estratégia que vem sendo utilizada até o momento, pelos governos em todos os níveis, para enfrentar o problema. Cerca de 70% dos infectados na América Latina e no Caribe são brasileiros, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Mais da metade dos casos prováveis no país foram notificados em Minas Gerais e São Paulo, mas a preocupação se alastra, inclusive para a população do Nordeste, onde a estação chuvosa que se inicia pode representar o aumento da incidência de arboviroses. Somente na capital paulista, todos os bairros se encontram atualmente com epidemia de dengue, com mais de 300 casos para cada 100 mil habitantes. Em uma semana, o número de infecções cresceu 21%, deixando a rede de urgência em alerta. As autoridades sanitárias buscam alternativas viáveis para tentar impedir o crescimento ainda maior do descontrole observado, sobretudo, em áreas densamente povoadas, pressionando a estrutura disponível de serviços de saúde, que podem entrar mais uma vez em colapso, ainda que não na mesma proporção, como no período da pandemia de Covid.
Uma das promessas de contenção da epidemia, embora o Ministério da Saúde não alardeasse como solução, a vacina ofertada não foi aceita pela população. Para se ter uma ideia, em Pernambuco, em quase um mês, apenas 5% das doses foram aplicadas nos vinte municípios contemplados com a substância imunizante. Mesmo em se considerando a vacina com uma função coadjuvante, sua comprovada eficácia mereceria um esforço maior da gestão pública para seu aproveitamento no público-alvo selecionado para utilização das poucas doses disponíveis, em relação à demanda de uma nação continental. Infelizmente, as aplicações estão abaixo do esperado. Por isso, a faixa etária que pode ser vacinada foi ampliada, de 10 a 11 anos, para de 10 a 14 anos de idade, para que a proteção possível contra os quatro tipos de dengue sensibilize os pais e responsáveis dessa fatia da população, considerada mais vulnerável ao agravamento dos quadros.
Para especialistas da OPAS, as mudanças climáticas explicam a alta incidência da dengue no mundo, até em países do hemisfério norte em que não se registravam surtos. As ondas de calor estão entre os fatores apontados para a proliferação dos mosquitos vetores. Trata-se de mais uma consequência da alteração climática para a qual os gestores públicos e a sociedade precisam se adaptar, com prevenções mais rigorosas e políticas de longa duração, a fim de garantir o mínimo de controle nas epidemias.

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