editorial jc

Editorial: O clima de medo instalado no bairro do Ibura

O clima de medo instalado no Ibura, sobretudo na Vila dos Milagres, tem as mesmas características das áreas mais violentas do Rio de Janeiro

JC Online
Cadastrado por
JC Online
Publicado em 25/06/2018 às 7:47
Foto: JC Imagem/Arquivo
O clima de medo instalado no Ibura, sobretudo na Vila dos Milagres, tem as mesmas características das áreas mais violentas do Rio de Janeiro - FOTO: Foto: JC Imagem/Arquivo
Leitura:

Como espaço geográfico e demográfico de Pernambuco, o Ibura ocupa o 37° lugar em população, isto é, tem mais habitantes que 148 municípios e também concentra alguns dos mais difíceis problemas estruturais urbanos, como alagamentos, transbordamento de canais, deslizamentos, violência, que contribuem para fazer o bairro detentor do menor Índice de Desenvolvimento Humano do Recife, um modelo indesejável. O bairro contém indicadores físicos e sociais que não justificam mas explicam em parte o perfil de um espaço urbano que vem ganhando notoriedade pelo seu lado mais negativo, isto é, pela criminalidade.

O clima de medo instalado no Ibura, sobretudo na Vila dos Milagres, tem as mesmas características das áreas mais violentas do Rio de Janeiro pelo confronto entre traficantes e policiais, do que resultam mortes dos dois lados e acusações recíprocas que alimentam vinditas, se realimentam e criam o caldo de cultura para um estado permanente de conflitos com mortos e feridos. É sintomática a linguagem dos protagonistas onde vai se tornando mais e mais difícil identificar culpas e culpados, prevalecendo a situação clássica de qualquer guerra: as grandes vítimas estão do lado de populações civis que lutam para se distanciar da área de fogo.

Desespero

O desespero de mães dos civis mortos no mais recente confronto na Vila dos Milagres é a expressão mais fiel dessa guerra não declarada. Pode-se até duvidar que seus filhos tenham sido executados após se renderem - o que seria 'crimes de guerra' como descritos pela Convenção de Genebra -, mas nenhuma explicação oficial será suficiente para atenuar a dor de jovens vitimados pelas condições sociais que os levam ao comércio das drogas onde impera a violência vista no Ibura em junho e fora da “área de guerra”, com a execução de um homem e tentativa de assassinato de uma mulher. Nada tão grave foi visto no mesmo período nos municípios do Interior, quando consideramos o bairro conflagrado como o 37°.

Entendido que Pernambuco não pode descuidar de qualquer dos sintomas de violência em seu território para fazer diminuir, ou até eliminar, o perfil de um dos Estados mais violentos do País, parece óbvio que o poder público terá que se voltar para essa área com a atenção especial que se deve dar a áreas de risco, onde a recorrência de um fato grave gera a expectativa de que ele poderá voltar a qualquer instante.

Últimas notícias