Mais que preço, estrutura ou expectativa de valorização, a relação afetiva com um determinado bairro pode ser determinante na hora de comprar um imóvel. Seja pela história de uma vida relembrada ao passar por ruas próximas ou a identificação com o perfil da vizinhança, para muitas pessoas a mudança de endereço não significa ir muito longe.
Há pouco mais de três anos, o advogado Geraldo Pontes, 61 anos, decidiu trocar o apartamento próprio onde vivia com a família no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife, por um imóvel novo, no mesmo bairro, a um quilômetro de distância. “O nosso apartamento antigo só tinha uma vaga na garagem e não tinha área de lazer. O novo tem as duas coisas e fica ainda mais perto da área mais central do bairro, mais próximo de padarias e da Beira Rio”, explica.
O interessante é que tanto o endereço antigo quanto o atual pertenciam ao bairro da Torre antes da lei municipal de 1995, que redefiniu os limites de vários bairros do Recife. E foi no bairro da Torre que o advogado nasceu e viveu até sua juventude e voltou a ter contato, mesmo que num endereço com nome diferente.
“Ainda tenho muitos amigos que moram aqui e minha família toda morava por aqui. Apesar de estar recebendo construções muito grandes, a Torre ainda é muito residencial, conserva algumas vilas, além de ficar perto do Centro, ter boa oferta de ônibus e um espaço para fazer caminhadas”, argumenta. Geraldo chegou a morar em Boa Viagem, em Olinda e nas Graças, mas garante que a boa localização e a relação afetiva com a área onde cresceu foram determinantes para não investir em outros bairros.
A compra de imóveis novos por moradores antigos do bairro é um comportamento já observado pelas empresas do setor de imóveis. Segundo o diretor executivo da Imobiliária Eduardo Feitosa, Roberto Rios, a maior parte das pessoas costuma iniciar a pesquisa por um novo apartamento nas redondezas do endereço onde vivem. “As raízes criadas com o bairro têm um peso muito grande. Ou pela história da pessoa ou para permanecer junto da família. Quando fazemos as nossas pesquisas de mercado, vemos que a maior parte das vendas se concentra entre moradores da área primária do empreendimento”, garante.
No caso da LMA Empreendimentos, a tendência vem sendo observada com mais destaque nas vendas do Edifício Aurora da Jaqueira. “Das sete primeiras unidades vendidas, seis foram compradas por pessoas que vieram a pé de suas casas para o estande de vendas”, exemplifica o diretor comercial da empresa, Bruno Melo.
Segundo ele, a localização foi determinante até para os clientes que não compraram com a intenção de mudar de endereço. “Hoje a região da Jaqueira tem o metro quadrado mais valorizado da Zona Norte e 80% das pessoas estão dispostas a pagar por essa localização. Tanto investidores quanto pais que compram para os filhos morarem no futuro”, garante o diretor comercial.
Um dos exemplos é a médica e professora universitária Patrícia Jungmann, que mora na Jaqueira há cerca de oito anos. “É um investimento que podemos moldar a muitas situações para a nossa família. Pode ser uma opção, caso os meus filhos queiram sair de casa, por exemplo. A Jaqueira é uma área muito boa, que dá muita tranquilidade às mães, oferece uma boa quantidade de bares para onde se pode ir a pé”, justifica a médica, que tem três filhos com idades entre 20 e 22 anos.
Patrícia já morou com a família em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, e Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, mas garante que nesses locais nunca encontrou uma identificação semelhante à que tem atualmente com a Jaqueira. “Existe uma sensação de pertencer a um lugar. O bairro tem um charme característico, uma certa uniformidade, as pessoas se conhecem de vista, se encontram nos lugares”, ressalta, enumerando ainda o próprio Parque da Jaqueira e a grande quantidade de serviços disponíveis nas proximidades, não sendo necessário usar o carro.