ABANDONO

Da Ponte do Janga à Marinha Farinha, orla de Paulista sofre com descaso

Moradores reclamam de falta de infraestrutura e insegurança. Em partes da orla, o mar está destruindo imóveis

Julia Aguilera
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Julia Aguilera
Publicado em 17/10/2018 às 7:30
Leo Motta/ JC Imagem
FOTO: Leo Motta/ JC Imagem
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Orlas costumam ser locais convidativos para momentos de lazer, passeio e prática de exercícios. Em Paulista, Região Metropolitana do Recife, a paisagem é o oposto disso. Ao longo dos quase 15 km que ligam a Ponte do Janga à Praia de Maria Farinha falta infraestrutura e sobram problemas. Obras inacabadas, ausência de banheiros químicos, invasões em área de mangue e avanço do mar estão entre as reclamações de moradores e de quem frequenta a área.

Na Ponte do Janga, a imagem de abandono, resultado de reformas deixadas pelo meio caminho desde 2015, é refletida na quantidade de sujeira acumulada nas margens da Avenida Doutor Cláudio José Gueiros Leite. No mangue, multiplicam-se as construções irregulares. Apesar de o lugar ser Área de Preservação Ambiental (APA), as invasões estão presentes nos dois lados da via.

Mais à frente, o descaso continua. Quase não há bancos inteiros para sentar, equipamentos para a realização de exercícios estão enferrujados e quebrados e há acúmulo de sujeira e areia por toda parte. Tampouco há banheiro público para banhistas e visitantes. A última obra de requalificação do espaço foi feita em 2014. Morador do bairro há 25 anos, o aposentado Rilson Nascimento, 59 anos, tem acompanhado, com tristeza, a depredação do espaço. “Os bancos estão quebrados há anos. Eram muitos e hoje só vemos os pedaços. Outro problema é a falta de banheiros. Só temos os que são improvisados pelos barraqueiros”, comenta. Segundo ele, grupos vão para a praia para depredar o espaço e nada é feito pela prefeitura para impedir.

“Nossa orla está bastante precária por falta de manutenção. Tirando a iluminação, todo o resto precisa de melhorias. Falta segurança. A limpeza e a coleta de lixo não são diárias, a rua está cheia de entulhos. Além disso, a situação das calçadas é péssima. Já vi muitas pessoas tropeçarem e caírem. É um risco enorme, principalmente para quem é idoso”, reclama também o assessor parlamentar Valdizio Jardim, 59, que há 20 anos frequenta a orla, onde costuma se reunir com os amigos para conversar, inclusive sobre a situação do equipamento.

Moradores ainda denunciam a existência de canais que despejam esgoto no mar. “Isso é crime ambiental, não pode deixar acontecer”, pontua um deles, que preferiu não se identificar.

Já na Praia de Pau Amarelo, os problemas de infraestrutura são agravados pelo avanço do mar. Em frente ao Forte de Nossa Senhora dos Prazeres, o muro de contenção está quebrado. “Faz mais de 5 anos que o muro foi feito, até participei da obra. Agora, o mar está avançando cada vez mais e nenhuma manutenção foi realizada. A prefeitura já voltou aqui algumas vezes para avaliar a situação, mas nada foi feito”, denuncia o morador João Salustiano Silva, 45, enquanto mostra pedras quebradas e deslocadas.

A situação se repete na Praia de Maria Farinha. Com o avanço do mar, condomínios e estabelecimentos precisam criar paredes de contenção para evitar que os muros caiam. Apesar do controle temporário da situação, a proximidade do mar pode comprometer a estrutura dos imóveis. Pescadores da área comentam que a maré alta tornou-se um tormento. “As pessoas não respeitaram e construíram perto do mar. Agora, estão tendo aperreio”, ressalta um deles.

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Ponte do Janga continua em obras - Leo Motta/ JC Imagem
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Famílias constroem casas dentro do mangue em Área de Preservação Ambiental (APA) - Leo Motta/ JC Imagem
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Calçadas destruídas na orla do Janga - Leo Motta/ JC Imagem
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Equipamentos de fazer exercícios quebrados e com ferros expostos - Leo Motta/ JC Imagem
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Muro de contenção destruído pelo mar em frente ao Forte de Pau Amarelo - Leo Motta/ JC Imagem
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Em Maria Farinha, construções próximas ao mar são destruídas e metralhas se espalham na areia - Leo Motta/ JC Imagem

RESPOSTA

Em nota, a Prefeitura de Paulista informa ter realizado ações de fiscalização nas áreas de mangue que foram invadidas. Segundo o órgão, equipes tentaram cadastrar as famílias que vivem no local, mas teriam sido impedidas de finalizar o trabalho por motivos de insegurança. A prefeitura ainda mencionou a possibilidade de entrar com ações judiciais contra as pessoas que estão construindo na área sem a autorização da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), que também é responsável pela preservação da região. A administração municipal ainda informa que a obra de alargamento da ponte foi retomada e a previsão é de que seja finalizada em meados de 2019.

Quanto à orla do Janga, a prefeitura diz realizar periodicamente ações de manutenção. Entre os serviços, estão a varrição, capinação e remoção de entulhos. Com relação aos problemas de estrutura das calçadas, o órgão pontuou que um levantamento de custos foi feito e que agora está buscando recursos junto à União e ao governo do Estado para a realização destes reparos. O serviço não tem data prevista.

A respeito do avanço do mar em Maria Farinha, a Secretaria de Infraestrutura, Serviços Públicos e Meio Ambiente esclarece que qualquer intervenção de contenção de erosão marítima, por ter custo elevado, necessita ser realizada em parceria com o governo federal. Também não foi dado prazo para a realização deste serviço.

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