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Conheça as três teorias sobre o derramamento de óleo no Nordeste

Desde o início de setembro, manchas de petróleo cru estão sendo vistas no litoral nordestino

Da redação com Estadão Conteúdo
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Da redação com Estadão Conteúdo
Publicado em 20/10/2019 às 7:00
Foto: Bruno Campos/ JC Imagem
Desde o início de setembro, manchas de petróleo cru estão sendo vistas no litoral nordestino - FOTO: Foto: Bruno Campos/ JC Imagem
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Há quase dois meses manchas de óleo vêm aparecendo em várias praias do Nordeste, incluindo Pernambuco. No entanto, mesmo após tanto tempo, ninguém conseguiu explicar a origem da substância, que segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é petróleo cru. Até o momento, existem três teorias acerca da origem do problema. 

De acordo com o geofísico e mestrando em Oceanografia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luís Tassinari, é preciso focar na limpeza das praias para que o problema não seja maior. "Está tendo investigação de onde veio esse óleo, mas é muito complicado dizer e focar nisso agora. Até porque a gente tem que pensar que já aconteceu. Tem que tentar fazer a compensação agora. A investigação tem que ser feita. Mas se foi criminoso, a pessoa não quer ser encontrada. Se foi acidente, esse acidente não foi divulgado. Pela quantidade de óleo, caso fosse um barco grande afundando, por exemplo, isso seria divulgado na mídia do mundo inteiro. Mas não se sabe se foi criminal ou acidental", comentou. 

Tassinari afirmou ainda que o derramamento não ocorreu de um evento geológico. "Pela minha experiência com geofísica, eu posso dizer que esse óleo não tem origem geológica. Até porque esse óleo é antigo, já está hidratado e muito alterado. Então, ele já está no mar há um tempo. Ele já sofreu muito intemperismo", explicou. 

Conheça as três teorias

Vazamento a 600 km da costa

Um estudo feito por pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontou que o vazamento pode ter ocorrido em uma região entre 600 km e 700 km da costa, na altura de Alagoas e Sergipe, no dia 14 de junho. 

A pesquisa realizada não indica um ponto específico de onde o vazamento aconteceu. Para os pesquisadores do Coppe, é provável que o que tenha acontecido foi uma operação de troca de óleo mal sucedida em alto mar, conhecida como ship-to-ship. Eles não acreditam que o vazamento tenha relação com barris da Shell encontrados em Sergipe e no Rio Grande do Norte. 

Origem da Venezuela 

Uma fonte da alta cúpula do governo de Jair Bolsonaro disse, ao jornal O Estado de S. Paulo, que a substância encontrada é o mesmo tipo de óleo extraído na Venezuela. A teoria também foi levantada porque investigações sigilosas da Marinha e da Petrobras localizaram o óleo com a mesma ‘assinatura’ da substância do país vizinho. 

Para o presidente Jair Bolsonaro, o vazamento de óleo foi criminoso. 

'Navios fantasmas'

A terceira teoria é a de que o derramamento do óleo foi provocado por ‘navios fantasmas’, ou seja, embarcações que navegam de forma clandestina. Esses navios desligam o transponder, que são aparelhos obrigatórios e que registram a localização das embarcações em tempo real.

Praias afetadas em Pernambuco

Desde que as primeiras manchas foram identificadas no litoral do Nordeste, 15 praias de Pernambuco receberam vestígios esparsos do material, mas atualmente não há registro de óleo em todas estas praias, segundo o Ibama.

•Boa Viagem - Recife - oleada/vestígios esparsos

•Praia Del Chifre - Olinda - oleada/vestígios esparsos

•Candeias - Jaboatão dos Guararapes - oleada/vestígios esparsos

•Piedade - Jaboatão dos Guararapes - oleada/vestígios esparsos

•Praias de Gamboa - Ipojuca - oleada/vestígios esparsos

•Praia de Nossa Senhora do Ó - Ipojuca - oleada/vestígios esparsos

•Porto de Galinhas - Ipojuca - oleada/vestígios esparsos

•Pau Amarelo - Paulista - oleada/vestígios esparsos

•Conceição - Paulista - oleada/vestígios esparsos

•Carneiros - Tamandaré - oleada/vestígios esparsos*

•Tamandaré - Tamandaré - oleada/vestígios esparsos

•Ilha Cocaia - Cabo de Santo Agostinho - oleada/vestígios esparsos

•Praia do Paiva - Cabo de Santo Agostinho - oleada/vestígios esparsos

•Praia do Forte Orange - Ilha de Itamaracá - oleada/vestígios esparsos

•Catuama - Goiana - oleada/vestígios esparsos

•Ponta de Pedras - Goiana - oleada/vestígios esparsos

*O secretário de Meio Ambiente de Tamandaré, Manoel Pedrosa, confirmou, na sexta-feira (18) a chegada de novas manchas na praia dos Carneiros, em Tamandaré.

Monitoramento

Nesta sexta-feira (18), o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, instaurou, no Palácio do Campo das Princesas, uma Sala de Situação para monitorar as manchas de óleo que chegaram no Estado. 

Estado de emergência

Após o reaparecimento de manchas de óleo na praia de São José da Coroa Grande, a prefeitura de São José da Coroa Grande decretou estado de emergência na região. O decreto foi publicado no Diário Oficial do Estado na sexta-feira (18) e começou a vigorar automaticamente.

Contenção

Com o objetivo proteger e preservar os mananciais pernambucanos do contato com a substância oleosa, a Marinha, a Petrobras e a Defesa Civil de Pernambuco instalaram boias de contenção na foz do Rio Pissinunga e Rio Una, em São José da Coroa Grande, na divisa entre Pernambuco e Alagoas.

O prefeito da cidade, Pel Lages, disse que aproximadamente 200 pessoas devem participar da remoção da substância quando a maré baixar, o que só deve acontecer por volta das 12h. "Nós estamos mobilizando cerca de 200 pessoas, entre voluntários e marinheiros para, assim que o mar baixar, por volta do meio-dia, possamos recolher esses resíduos", falou.

Ajuda da população

Ciente do impacto ambiental e econômico para o município, a população de São José da Coroa Grande se uniu às autoridades para ajudar na remoção do material, que é encontrado de forma esparsa em alguns pontos da praia da cidade, na divisa com Peroba, em Alagoas.

Segundo a presidente da Colônia de Pescadores da cidade, Enilde Lima, os profissionais estão mobilizados para ajudar as autoridade, inclusive, pondo seus barcos à disposição. "Há embarcações nossas à disposição para ajudar nessa situação. Inclusive, alguns pescadores já foram para o mar e para a várzea do [Rio] Una. Estamos mobilizados para ajudar", disse. "A preocupação da gente é não chegar nos corais do [Rio] Una, que é o berçário de tudo", completou.

A recomendação da Marinha é que os moradores não entrem em contato com o material sem usar luvas e botas, porque a substância é considerada tóxica.

Ipojuca

Apesar de as manchas de óleo não terem chegado às praias do município de Ipojuca, como Porto de Galinhas e Maracaípe, no Litoral Sul de Pernambuco, a Prefeitura informou que está realizando monitoramento preventivo nas praias. O acompanhamento acontece tanto por meio da Central de Monitoramento, com uso de drones que sobrevoam a costa, como a fiscalização presencial de equipes do meio ambiente. Nessa quinta-feira (17), a prefeita Célia Sales realizou uma visita às praias de Ipojuca e implantou um comitê de crise.

O comitê é composto por diversos secretários e, segundo a prefeitura, 70% do litoral de Ipojuca está sendo fiscalizado 24 horas pela Central de Monitoramento da Secretaria de Defesa Social da cidade. A prefeitura informou, ainda, que caso a população encontre vestígios de óleo no litoral, deve entrar em contato com o órgão, através dos números (81) 99910-5782 ou (81) 3551-1766. É importante lembrar que as pessoas não devem entrar em contato com a substância, visto que ela é tóxica.

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