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Fome: o fracasso humano

Segundo cálculos da ONU, mais de 280 milhões de pessoas estão em situação de desnutrição aguda no planeta

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Cadastrado por

JC

Publicado em 25/04/2024 às 0:00
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O horizonte de 2030 para a erradicação da fome no mundo vem se mostrando, a cada ano, um sonho utópico. Pelo quinto ano consecutivo, tendo a pandemia de Covid na trajetória, houve aumento na quantidade de indivíduos em insegurança alimentar grave. Quase 60 países se encontram em situação crítica, com famintos espalhados nas ruas ou em suas precárias moradias. Em comparação a 2022, 24 milhões de pessoas entraram nessa classificação, que chega a 281 milhões em todo o planeta. Do total, nada menos que 36 milhões podem ser consideradas à beira da morte por falta de comida – quantas já devem ter falecido, sem o atendimento ao direito básico do alimento para sem manter vivo?
Cinco países concentram metade dos famintos: o Congo, a Nigéria, o Sudão, o Afeganistão e a Etiópia. A Faixa de Gaza entra na lista em decorrência da guerra entre o Hamas e Israel, com 100% da população além de 2 milhões de habitantes sem alimentação adequada todos os dias, apesar dos protestos que se multiplicam do lado de fora do território atacado pelos israelenses na caça aos terroristas. Estima-se que um terço das crianças abaixo de 2 anos de idade em Gaza estão desnutridas. Quando se observa o percentual da população com fome, a Síria e o Iêmen entram na lista com o destaque aflitivo de mais de 50% da nação sem ter o que comer. Oito países latino-americanos são indicados como locais de maior ocorrência da fome extrema: Haiti, Bolívia, Colômbia, El Salvador, República Dominicana, Honduras, Nicarágua e Guatemala. O quadro de violência no Haiti, dominado pelas gangues, é um dos fatores para o agravamento da insegurança alimentar no país.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) foi até comedido ao anunciar os números trágicos da fome, que se referem a 2023: “Este relatório é uma chamada de atenção para as falhas humanas”, apontou, na triste expectativa de dados catastróficos em 2024. Mais que um alerta, trata-se de uma prova do fracasso da humanidade, incapaz de combater a desigualdade e a miséria que agridem o humanismo que deveria nos conduzir através das épocas. Infelizmente, continuamos sendo arrastados pelas guerras, que sugam os recursos dos países ricos para a destruição e a morte – 2,4 trilhões de dólares, somente no ano passado, enquanto o Banco Mundial aplicou 45 bilhões de dólares em programa contra a fome.
A violência armada que invade a política e o cotidiano da população é outra engrenagem da mesma máquina de guerra posta em ação, com voracidade, em Gaza e na Ucrânia, azeitada pela inércia dos governos nacionais, que não querem ou não conseguem reduzir as disparidades econômicas e sociais. Considerando os estágios da insegurança alimentar, podem existir cerca de 800 milhões de pessoas desnutridas no mundo. Em 2030, ano estipulado para o fim da fome, a meta otimista é que ainda restem 600 milhões nessa condição.

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