Uma competição que ganha quem assiste. Para quem disputa, a vitória já é deixar o corpo ser regido pelas batidas marcantes do break. Um triunfo coletivo de uma cultura que durante muito tempo foi – ou ainda é? – bastante marginalizada. Assim são as batalhas de b-boy (break boy), um duelo de dança que começou no Bronx (bairro de negros e hispânicos de Nova York), na década de 70, e até hoje é travado como afirmação de um estilo próprio das ruas, em todas as partes do mundo, inclusive em Pernambuco.
O break é um dos elementos que compõem o hip hop, junto com o rap e do grafite. Ele tem esse nome porque os praticantes dançavam na “quebrada” da música, mais precisamente nas batidas que os DJs criavam misturando as faixas do vinil. O termo b-boy foi criado pelo DJ jamaicano radicado nos Estados Unidos Kool Herc, para designar o grupo de dançarinos que participavam das festas organizadas por ele no Bronx. Os rachas (battles) de break tiveram origem na disputa entre gangues rivais do bairro.
Desde 1984, a companhia de danças urbanas Recife City Breakers (RCB) vem levantando a bandeira da dança na cidade, além de ensiná-la (ver reportagem ao lado). Em parceria com o projeto Brigada Hip Hop Pernambuco, ela organiza encontros regulares de b-boys em alguns pontos da cidade como os parques Dona Lindu, Jaqueira, 13 de Maio, além do Marco Zero. Eles chegam nos locais, fazem um breve alongamento, ligam um som e, na sequência, colocam os corpos para “quebrar”. Rapidamente, a elasticidade e a técnica dos participantes, aliadas ao ritmo contagiante, vão chamando as pessoas em volta.
Plateia formada, hora de começar a batalha. No geral, elas são travadas de forma individual ou em grupo de 6 a 10 participantes. A duração média é de 6 minutos. Nesse intervalo, eles mostram suas habilidades em uma área circular de aproximadamente 4 metros quadrados. Cabe aos jurados determinar quem dançou melhor. “Na apresentação são observados os três “f”: O feeling, que é a interpretação dos movimentos, se ele dança com sentimento, o flow em que se analisa o fluxo da coreografia, tudo tem que estar conectado, e o flavor que é o tempero que ele coloca na dança, o modo que gesticula, se comporta e até se veste”, explicou o diretor e coreógrafo da RCB, Marcos Pacheco.
Ao assumir o codinome B-boy New Boy, Kleiton Nascimento, 24 anos, sabe que, de fato, se tornou uma nova pessoa. Não só pelos 10 títulos estaduais e regionais que ganhou. “Ganhei um sentido pra vida. O break para mim é mais que uma dança e, sim, um jeito de enxergar o mundo. Quando estou dentro da roda, me sinto realizado”, disse.
Há vários anos, uma figurinha fácil de se achar nos duelos do Recife é o Jackson de Aguiar Pinto, o B-boy Jackson, um dos mais experientes ainda em atividade com seus 40 anos, idade que definitivamente não aparenta ter devido à energia que mostra. Começou a dançar com 16 anos e, em 2001 e 2002, quando foram organizadas as duas primeiras edições do campeonato pernambucano de break, sagrou-se bicampeão. Outras conquistas, porém, o envaidecem mais. “Nunca consegui viver só da dança então sempre trabalhei como pasteleiro. Todos os valores que aprendi no break levei para dentro de casa. Assim, consegui criar minhas 3 filhas que hoje, graças a Deus, já estão na faculdade”, disse, todo orgulhoso. A batalha que venceu foi a da vida.