Exemplos

Alguns lares geriátricos põem abaixo prevalente ideia de abandono

Instituições com estrutura adequada no Recife revelam histórias de idosos felizes

Luiza Freitas
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Luiza Freitas
Publicado em 21/06/2015 às 7:35
Foto: Diego Nigro/ JC Imagem
Instituições com estrutura adequada no Recife revelam histórias de idosos felizes - FOTO: Foto: Diego Nigro/ JC Imagem
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Vestida em “all jeans”, colar de pérolas e maxi anel, Creusa Pinheiro convence facilmente quando diz que é feliz. Mesmo em boa forma, não passam despercebidas as marcas de suas 80 primaveras, que se destacam ainda mais quando sorri. Depois de casar três vezes, criar filhos, netos e ganhar bisnetos, Creusa foi morar em uma ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos), o Conviver Geriátrico. Feliz. Sem abandono, contrariando o estereótipo dos idosos que passam a viver em lares para a terceira idade.

“Sempre morei só depois que meus filhos cresceram e se casaram. Mas a casa era grande, tinha escadas e eu comecei a ficar meio esquecida. Aí eles (os filhos) ficaram preocupados e me trouxeram para cá”, conta a ex-dona de engenho alisando os braços da cadeira do pátio que divide com outras 49 idosas do Conviver, localizado em Boa Viagem, Zona Sul do Recife.

Criado há quase 20 anos, o local é referência no cuidado de idosos e integra o programa de residência médica em geriatria do Hospital Português e das Universidades de Pernambuco (UPE) e Federal de Pernambuco (UFPE). “Aqui, além de termos um atendimento multidisciplinar, nós produzimos conhecimento através de pesquisas. É preciso diferenciar as ILPIs. Existe o modelo antigo, que as pessoas conhecem como os asilos, e o mais novo, em que é dado um acompanhamento gerontológico adequado aos idosos”, ressalta Solange Beltrão, diretora administrativa do Conviver.

Não diferenciar os dois tipos de espaços é o que leva muitas pessoas a associarem espaços de acolhimento de idosos ao abandono, falta de cuidado e maus tratos. No Recife, é longa a lista de locais dispostos a receber essas pessoas, mas nem todos têm condições de oferecer cuidados e menos ainda os que contam com equipes multidisciplinares para retardar as limitações da velhice. 

Para ter certeza da seriedade do estabelecimento, a orientação é que a família exija a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o funcionamento e alvará da prefeitura. Além desses critérios, cabe à família fazer visitas frequentes, tão importantes quanto o tratamento para o bem-estar dos mais velhos.

Junto a Creusa, Carmem Leal, 86, é uma das poucas idosas totalmente lúcidas do Conviver e confirma a diferença de tratamento. “Cheguei aqui sem saber de nada, sem saber como ia ser, estava deprimida. Foi difícil bem no começo, mas depois passei a gostar e estou há 12 anos aqui. Não deixo ninguém falar mal. Tem atividades o dia todo, conheço todo mundo. Sou a repórter da casa”, gaba-se. A depressão – iniciada após a morte da filha com quem vivia – foi superada e suas tristezas ficam por conta das inevitáveis despedidas de algumas companheiras de saúde mais frágil. “Mas sou uma das mais animadas aqui. Meu negócio é assistir todo tipo de esporte na televisão e torcer pelo Náutico”, resume.

Uma rotina com atividades – mesmo que de ritmo mais lento – é o que faz muitos dos idosos que vivem em instituições adequadas para o serviço apresentarem retardo no desenvolvimento de suas patologias. “A realidade é que a maior parte dos idosos que têm limitações e vivem em casa ficam sob responsabilidade de apenas um cuidador, que não os estimula como uma equipe multidisciplinar. Muitos acabam passando o dia sentados na frente de uma televisão, sem a convivência da família – que passa o dia trabalhando – e a doença acaba evoluindo mais rápido”, diz Sandra Brotto, geriatra e sócia do Lar D'Avis, ILPI inaugurado há cerca de um mês no bairro do Pina, também na Zona Sul.

A primeira paciente foi Ivone Veloso, 88, que sofre de Alzheimer. “Sentimos que ela evoluiu muito nesse último mês, já se sente em casa. Ela sempre foi uma pessoa que gostou de viver em sociedade, mas estava confinada em casa”, conta a neta, Ana Carolina Guimarães, 39. Mesmo sendo mãe e avó de médicas, a mudança de Ivone não foi fácil. “A gente sempre acha que em casa o idoso vai estar melhor, então a gente tem receio. Mas eu pesquisei muito antes de decidir e eu e minha mãe a visitamos sempre”, garante. 

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