COALIZÃO

Aliados de Paulo Câmara continuam na base de Michel Temer

O PSB anunciou oposição a Temer em 2017. Ainda assim, siglas da base do governo federal como PP, PR, PSD, SD, PSL e PMDB continuam com Paulo em PE

Cássio Oliveira
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Cássio Oliveira
Publicado em 12/02/2018 às 7:00
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O PSB anunciou oposição a Temer em 2017. Ainda assim, siglas da base do governo federal – como PP, PR, PSD, SD, PSL e PMDB – continuam com Paulo em PE - FOTO: Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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O governador Paulo Câmara (PSB) tem no palanque da Frente Popular aliados importantes e que, ao mesmo tempo, são de partidos da base do presidente Michel Temer (PMDB). Curiosamente, os socialistas tentam colar a imagem – e a impopularidade – do presidente no grupo de oposição composto pelos senadores Armando Monteiro (PTB) e Fernando Bezerra Coelho (PMDB), mais os ministros da Educação, Mendonça Filho (DEM), e das Minas e Energia, Fernando Filho (sem partido), além do deputado federal Bruno Araújo (PSDB), ex-ministro das Cidades.

Na última semana, o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), usou o chavão “turma do Temer” para identificar o bloco Pernambuco Quer Mudar, dizendo que defendem aumento da conta de energia com a privatização da Eletrobras. Armando Monteiro rebateu falando que o socialista deveria se incluir na “turma”, pois o PSB votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
A estratégia política de evitar a identificação com Temer tem justificativa nos números. Pesquisa Datafolha, divulgada em 31 de janeiro, mostrou que o presidente tem 60% de rejeição. Além disso, 87% dos entrevistados disseram que não votariam no candidato indicado por ele. Em um dos cenários eleitorais, Temer aparece com 1% das intenções de voto.

Em maio do ano passado, em meio à crise política causada pelas delações da JBS, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, anunciou que a legenda faria oposição e defenderia a renúncia de Temer. Ainda assim, siglas da base do governo federal – como PP, PR, PSD, SD, PSL e PMDB – continuaram marchando com os socialistas em Pernambuco.

As circunstâncias posicionam em um mesmo palanque deputados como Fernando Monteiro (PP) e Augusto Coutinho (SD) – que votaram a favor das principais pautas de Temer –, Danilo Cabral (PSB) e Wolney Queiroz (PDT), contrários às propostas do peemedebista.

As divergência no palanque não param por aí. O presidente do PSL, Luciano Bivar, patrocina a candidatura de Jair Bolsonaro (PSC) para presidente da República. Já a presidente do PCdoB, Luciana Santos, lançou o nome da comunista gaúcha Manuela D'Ávila (PCdoB). Ambos, porém, têm o mesmo candidato a governador: Paulo Câmara.

VOTAÇÕES PRÓ-GOVERNO TEMER

Em agosto passado, a pedido do seu partido, o PR, o secretário de Transportes do Estado, Sebastião Oliveira, foi exonerado por Paulo para reassumir o cargo de deputado federal e votar para barrar a denúncia contra Temer. Na época, o governador disse que seu governo tinha “uma grande frente de partidos” e que, mesmo com pensamento diferente do secretário, teria que respeitar.
Sebastião disse não ver problema em o PR integrar a base de sustentação de Paulo Câmara. “Nunca fui informado por nenhum socialista que isso causa algum incômodo. O diretório estadual do PR possui total autonomia para decidir o destino da sigla em Pernambuco. Além disso, há outros partidos que compartilham da mesma situação: são aliados de Paulo e Temer. Só permanecemos nos lugares onde nos querem. Qualquer coisa, é só falarem”, disse.

O ministro Raul Jungmann (Defesa), que preferiu não se pronunciar sobre o assunto, também está na base de Paulo mesmo ocupando uma pasta no governo Temer. O deputado Bruno Araújo (PSDB), inclusive, já cobrou que Paulo se pronunciasse sobre a questão. Também procurado, o deputado André de Paula não foi localizado.

O deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB), que votou a favor das denúncias contra Temer, mas foi favoravelmente à reforma trabalhista, disse ter consciência e convicção, “sem muito lastro com alinhamento partidário”. Através da assessoria, disse votar de acordo com a importância do assunto e no que acredita. Não por direcionamento de bancada. O parlamentar ainda destacou não ver constrangimento em se posicionar de forma diferente ao que o PSB prega: “É da política, é normal, as divergências e o respeito a elas”.

Para o presidente estadual do PP, deputado federal Eduardo da Fonte, também se descola do partido em algumas votações. O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro, é do PP. Eduardo da Fonte votou pela reforma trabalhista e pela PEC do Teto dos gastos públicos. Mas também votou a favor das denúncias. “É preciso fazer distinção. O partido faz parte da base de Temer, mas optei por não fazer nenhuma indicação no governo. A gente trabalha pela estabilidade do País. Temos que ser responsáveis com nossos votos. Na votação para manter Temer, por exemplo. Mais uma eleição seria ruim para o País, e nós temos que gerar normalidade política. Não torço pelo quanto pior melhor”, disse o parlamentar.

Dentro do próprio PSB, há aqueles mais alinhados com o governo Temer, como o deputado federal Marinaldo Rosendo. Ele votou a favor das pautas do presidente, contrariando a orientação da bancada na Câmara. Em entrevista recente ao, ele já afirmou que deve deixar a sigla até abril e migrar para o DEM, de Mendonça Filho, que faz oposição a Paulo Câmara. Outra opção seria se filiar ao PMDB, caso Fernando Bezerra consiga o controle da sigla. A reportagem do JC procurou o Palácio do Campo das Princesas, mas assessoria de imprensa informou que o governador Paulo Câmara não iria comentar o assunto.

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