Lava Jato

Consórcio da Camargo Corrêa repassou R$ 37,7 mi a doleiro, diz PF

O CNCC pagou R$ 38,75 milhões à Sanko por serviços em que há ''fortes indícios'' de que não foram prestados

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Publicado em 05/03/2015 às 20:18
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O CNCC pagou R$ 38,75 milhões à Sanko por serviços em que há ''fortes indícios'' de que não foram prestados - FOTO: Foto: Polícia Federal em São Paulo
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Um consórcio liderado pela Camargo Corrêa repassou R$ 37,7 milhões a empresas fantasmas do doleiro Alberto Youssef usando como intermediária as empresas Sanko Sider e Sanko Serviços, aponta laudo da Polícia Federal que faz parte de um processo da Operação Lava Jato.

O consórcio, chamado CNCC, pagou R$ 38,75 milhões à Sanko por serviços em que há "fortes indícios" de que não foram prestados. A maior parte desse valor (R$ 37,73 milhões) foi repassada à MO Consultoria e GFD Investimentos, duas empresas controladas pelo doleiro.

As transferências foram feitas entre outubro de 2010 e dezembro de 2013.

Denúncias de procuradores que atuam na Operação Lava Jato dizem que todos os pagamentos feitos às empresas de Youssef eram repasse de propina, já que essas firmas não tinham atividades que justificassem os recebimentos.

Dois réus e uma testemunha afirmaram à Justiça que os contratos assinados pelas empresas de Youssef eram só uma forma de justificar a entrada de recursos, já que os serviços nunca foram prestados.

O consórcio recebeu o maior contrato para as obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, de R$ 3,4 bilhões, em valores de 2010. A refinaria, cujo custo inicial era estimado inicialmente em R$ 5,6 bilhões, deve consumir R$ 57 bilhões quando ficar pronta, no próximo ano.

Os procuradores sustentam que contratos superfaturados da refinaria eram uma das fontes do suborno distribuído pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa a políticos.

A própria Camargo Corrêa fez pagamentos à Sanko que também foram transferidos ao doleiro. Em 20 de julho de 2009, a empreiteira pagou R$ 3,6 milhões à Sanko Sider pelo fornecimento de tubos e prestação de serviços. Logo depois, em 31 de julho e 1º de outubro, a Sanko repassou R$ 3,2 milhões para a MO Consultoria de Youssef.

"Informações obtidas pelos peritos indicam que a venda dos produtos (tubulação) não foi efetivada", afirma o laudo.

A PF também não encontrou na contabilidade da Sanko registro dos serviços que a empresa diz prestar ao consórcio CNCC.

O laudo diz que há indícios de fraude na avaliação que a Petrobras fez da Sanko para certificar a empresa -todos os fornecedores da estatal precisam desse certificado.

Segundo a PF, a Petrobras aceitava avaliar a Sanko usando documento contábeis de outra empresa, a Cia. Mecânica Auxiliar. A Sanko detém só um terço das ações da Cia. Mecânica, "não figurando nem mesmo como controladora".

Para os peritos, "os demonstrativos contábeis [de 2009 a 2013] revelaram uma fragilidade financeira acentuada, com seguidos prejuízos e elevado endividamento". Em 2009, por exemplo, a Sanko registrou um prejuízo de R$ 22,9 milhões e um patrimônio líquido negativo de R$ 64,1 milhões. Os peritos são didáticos sobre o significado de patrimônio líquido negativo: se a Sanko vendesse todos os seus bens e transformasse em dinheiro todos os seus direitos, ficaria devendo R$ 64,1 milhões.

OUTRO LADO

O advogado do consórcio CNCC, Celso Vilardi, diz estar indignado com as conclusões do laudo: "Estou indignado porque todos os serviços foram prestados e temos como comprovar isso facilmente". Os serviços prestados pela Sanko, segundo ele, envolveram busca de fornecedores de tubos no exterior, cadastro desses fornecedores na Petrobras, desembarque dos tubos e rastreamento do material no canteiro de obras.

Vilardi diz que os peritos teriam de visitar o canteiro para poder afirmar que não houve prestação de serviços. "É uma loucura uma perícia contábil concluir que há fortes indícios de que os serviços não foram prestados".

O advogado refuta a informação de que o consórcio fez pagamentos antecipados à Sanko. "Pagamos porque a empresa prestou os serviços"

A Camargo Corrêa diz em nota que "não pode comentar vazamento ou citação de procedimentos judiciais que correm sob sigilo e aos quais não teve acesso" e que repudia as suspeitas de irregularidades.

A empreiteira afirma que todos os seus pagamentos correspondem a serviços prestados e que nunca fez "pagamento ilegal".

A Sanko diz que as afirmações do laudo "não são conclusivas" porque a análise foi feita por amostragem.

Sobre as suspeitas de fraude no cadastro da Petrobras, a empresa diz que "atende a todas as suas exigências e normas estabelecidas". "Refutamos severamente qualquer afirmação precipitada, afoita e leviana, que falseie as informações cadastrais de nossas empresas e extrapolem aquilo que está claramente inscrito nas conclusões deste relatório".

Ainda segundo a empresa, o laudo conclui que "não houve superfaturamento e o nosso trabalho se deu dentro da lei e da ética comercial".

Procurada pela Folha, a Petrobras não havia se manifestado sobre o cadastro da Sanko até este momento.

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