TECNOLOGIA

Big Data: como os candidatos sabem quem são e o que querem os eleitores?

A campanha do big data: processamento de dados para traçar perfil do eleitor, psicometria e arrecadação automatizada ganham fôlego na eleição

Paulo Veras
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Paulo Veras
Publicado em 20/05/2018 às 9:31
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A campanha do big data: processamento de dados para traçar perfil do eleitor, psicometria e arrecadação automatizada ganham fôlego na eleição - FOTO: Imagem: divulgação/NERIT
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A Ideia Big Data, uma multinacional que analisa o perfil de eleitores e consumidores, entrou na campanha de Caruaru, no Agreste, no segundo turno de 2016. O objetivo era identificar, com base em bancos de dados e redes sociais, quem eram os apoiadores dos candidatos que ficaram de fora do segundo turno, o que eles esperavam do futuro prefeito e municiar a campanha da então candidata Raquel Lyra (PSDB) para que ela soubesse como conquistar esse público. A tucana, que terminou o primeiro turno em segundo lugar, teve o dobro dos votos e bateu o ex-prefeito Tony Gel (MDB).

O uso de tecnologias como processamento de dados para traçar os interesses do eleitor, o uso de técnicas de psicometria para identificar o discurso mais eficiente e até arrecadação automatizada ganha fôlego como uma forma mais sofisticada e precisa de conquistar os votantes. É a campanha do futuro que sabe exatamente quem é e o que quer o eleitorado.

“Nesse ano em que será possível comprar mídia digital e impulsionar publicações na campanha brasileira, vai ser fundamental entender que segmentos de eleitores são fundamentais para as campanhas para fazer a entrega de conteúdo da maneira mais eficiente possível. Para isso, é preciso estudar e processar os dados tanto das redes quanto das pesquisas”, explica Maurício Moura, fundador da Ideia, que já atuou em 88 campanhas de 10 países. Este ano, ele diz que deve trabalhar para uma campanha de oposição em Pernambuco.

Técnicas de big data e de triagem de perfil de candidatos já são empregadas em campanhas brasileiras desde a década passada, mas entraram no foco após a corrida presidencial americana de 2016. Um software que permite geolocalizar os eleitores no mapa e classificá-los por interesses lançado pela NeritPolitica (sistema de gestão política) já atende 200 pré-candidatos, inclusive um deputado federal pernambucano.

Com ele, a equipe de marketing consegue identificar em que regiões de uma cidade está seu público e acioná-lo por email e SMS com uma linguagem pensada para conquistar o voto.

“No módulo, nós cadastramos os eleitores ou apoiadores do candidato através de informações como email, endereço e sexo. E o candidato pode criar etiquetas para organizá-los de acordo com a estratégia eleitoral. Se o político trabalha com religião, quais as religiões. Se ele trabalha com times de futebol, quais os times. Você faz essa segmentação para que ele possa falar com a linguagem desse público”, explica Renato Santos, fundador da Nerit.

DESAFIO

Segundo Luciane Antoniutti, professora da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e especialista no uso de big data em campanhas eleitorais, há diferença na forma como a tecnologia é empregada no Brasil em relação aos Estados Unidos, onde a precisão em identificar o interesse da população é muito maior.

“Os dados dos cidadãos americanos são mais disponibilizados e com o real consentimento. Os partidos possuem um grande banco de dados que está sempre atualizado. Aqui no Brasil, até mesmo os órgãos públicos não conseguem organizar seus dados. Aí os estrategistas que trabalham com dados para diversos negócios os buscam em listas que não são públicas, cometendo abusos nos usos de dados privados e fugindo totalmente a questão ética”, alerta.

Ela lembra que, embora no Brasil, muitas vezes, os dados utilizados não sejam públicos, eles foram fornecidos pelos próprios eleitores em cadastros online que traçam o perfil de consumo ou através de preferências demonstradas em redes sociais.

“O importante é entender que, por mais acesso que uma campanha eleitoral tenha aos dados particulares dos eleitores, eles são usados sempre para definir grupos de eleitores e direcionar mensagens ou estratégias. Mas concordo com quem considera um risco o uso dos dados pessoais, porque eles podem servir para uma estratégia simples de comunicação ou para algo não tão ingênuo”, explica.

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