SÉRIE ESPECIAL

Presente e futuro dos conflitos 70 anos após a Segunda Guerra Mundial

A evolução do pensamento estrategista militar atual mostra o retrocesso cada vez maior das relações humanas

MARCOS OLIVEIRA
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MARCOS OLIVEIRA
Publicado em 01/09/2015 às 6:32
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A evolução do pensamento estrategista militar atual mostra o retrocesso cada vez maior das relações humanas - FOTO: Foto: reprodução
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Ao analisar os conflitos bélicos do século 20, o historiador Eric Hobsbawn, um dos maiores nomes da historiografia mundial, apontou para uma “impessoalidade da guerra”, que tornava matar e estropiar o inimigo o resultado de uma simples ativação de um botão ou deslocamento de uma alavanca. Essa desumanização do inimigo - e por que não, também de quem dispara – vista por Hobsbawn, principalmente, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) segue uma crescente desde então. As principais potências mundiais, sobretudo Estados Unidos, investem fortemente em tecnologia que permita destruir cidades inteiras sem o deslocamento de soldados para o local do combate. É a evolução do pensamento estrategista militar, que mostra o retrocesso cada vez maior das relações humanas.

A detonação das bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagazaki, em agosto de 1945, continua sendo uma das polêmicas envolvendo essa transmutação de sentido da vida humana em alvo passível de ser destruída em larga escala, com apenas um disparo. Nos ataques, mais de 250 mil japoneses morreram com as bombas, uma para cada cidade, que caíram do céu e devastaram as regiões, deixando marcas, psicológicas e físicas, na sociedade nipônica que permanecem até hoje. Dentre as alegações, os EUA afirmaram que estava a possibilidade de abreviar o conflito. Objetivo atingido em 2 de setembro, quando o Japão assinou a capitulação.

Mas se naquele tempo foi preciso que soldados americanos estivessem nos aviões para que as bombas caíssem nos locais estrategicamente definidos, hoje isso não é mais preciso. Os drones representam atualmente a arma americana mais usada nas operações da “guerra ao terror”.

Os EUA abertamente conduzem ataques com esses equipamentos na Síria, Iraque e Paquistão. Com o intuito de enfraquecer as posições do grupo terrorista Estado Islâmico. Junto aos americanos, China, Israel e Rússia também têm aumentado seus investimentos nessa tecnologia. Os russos, por exemplo, segundo anúncio do ministro da Defesa, Serguei Shoigu, deverão aplicar, só em desenvolvimento desses aparelhos, aproximadamente US$ 5 bilhões até 2020.

A vantagem do drone para quem ataca, dentre outras, está na precisão cada vez maior do disparo, o baixo custo de cada equipamento - se comparado aos aparelhos tripulados, além do fato de não colocar soldados do país agressor em risco. Em julho deste ano, os EUA comemoraram a morte do líder da Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) , Naser al-Wahishi, após o ataque de um drone. Ele se soma a outros próceres terroristas assassinados pelo mesmo artifício.

Porém, para que um inimigo morra, milhares de civis perecem. Instituições como a Reprieve, sediada em Londres, e a Organizações das Nações Unidas(ONU) são quem alertam para isso. Com base em reportagens e dados públicos divulgados nos últimos dez anos, a Reprieve mapeou 41 alvos perseguidos pelos EUA, no Paquistão, e concluiu que 1.147 pessoas morreram nas tentativas de atingi-los.

O escritor e doutor em ciência política pela Princeton University, Norman Finkelstein, costuma defender que o uso deles apenas demonstra que mais de 70 anos após o término da Segunda Guerra Mundial, ainda estamos longe de usar nossa inteligência para construir e não para destruir uns aos outros.

SOLDADOS ROBÔS

O fim do desenvolvimento por parte das grandes potências de robôs militares autônomos. Este é o pedido de mil cientistas e especialistas, dentre eles o físico Stephen Hawking, em manifesto divulgado em julho.

Eles reconhecem que existem argumentos a favor desse tipo de arma, como o fato de que reduziriam as perdas humanas em conflitos bélicos - pelo menos do lado do país agressor. Mas os estudiosos destacam que ao contrário das armas nucleares, as autônomas não apresentam custos elevados e nem requerem matérias-primas difíceis de obter para sua construção. Por isso, alertam para o risco dessa tecnologia, que já deve ser criada nos próximos anos, cair no “mercado negro e nas mãos de terroristas, ditadores e senhores da guerra”. 

Esse tipo de arma será em pouco tempo o exemplar mais extremado dessa impessoalidade da guerra alertada por Hobsbawn e nos deixará próximos de conflitos vistos, até então, só em filmes como Star Wars. Além de mostrar uma preocupante constatação. As potências militares impõem que outras nações não invistam em armas de destruição em massa e tecnologia nuclear. Porém, as mesmas, mostrando mais uma vez o contrassenso destrutivo humano, correm na direção oposta. 

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