Uniformizadas

Grupo no Facebook incita a violência entre torcidas

Página na rede social serve como "sala de troféus" para torcedores exibirem seus crimes

ALEXANDRE ARDITTI
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ALEXANDRE ARDITTI
Publicado em 03/10/2015 às 13:00
Reprodução/Facebook
Página na rede social serve como "sala de troféus" para torcedores exibirem seus crimes - FOTO: Reprodução/Facebook
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Dicas de conduta para serem adotadas pelos integrantes das uniformizadas durante os enfrentamentos com facções rivais. Vídeos de confrontos dentro e fora dos estádios. Fotos de materiais que foram roubados dos adversários (como bandeiras, faixas, camisas, bonés e etc). Culto às brigas “na mão”, sem apelar para o uso de armas de fogo e outros objetos que possam ferir os “guerreiros”, como se autointitulam. Ameaças de todo o tipo, entre si e até contra dirigentes que os combatem... Isso tudo forma o conteúdo inflamável de um grupo fechado na rede social Facebook, restrito a convidados, batizado de Torcidas Organizadas. Uma espécie de “sala de troféus” dos que usam o futebol apenas como pano de fundo para promover a violência.

A página está no ar desde 2013, nasceu em Fortaleza e reúne atualmente quase 57 mil membros. A maioria formada por integrantes e simpatizantes de torcidas nordestinas, que se manifestam no grupo exclusivamente para incitar a violência entre as uniformizadas. Em momento nenhum, fazem referências aos resultados das partidas ou às atuações dos times que dizem torcer. Talvez por se tratar de uma página restrita a convidados, os participantes se sentem completamente à vontade para postar fotos e vídeos em que aparecem cometendo crimes nos estádios e em seus arredores: brigas, roubos e depredação do patrimônio público. Está claro que não temem ser identificados e punidos por seus atos.

“Eles mostram a cara por saber que a impunidade impera. Em 2014, apenas 3% dos crimes cometidos no Brasil envolvendo o futebol foram apurados até o fim. A lei existe, mas precisa ser aplicada. As autoridades policiais são despreparadas para repreender as organizadas. Não são grupos de torcedores, são grupos de criminosos”, afirmou o coordenador de pesquisas do mestrado da Universo do Rio de Janeiro, Maurício Murad, autor do livro "Para entender a violência no futebol". “Esses membros fazem questão de expor os seus feitos delituosos porque no ambiente deles a violência é glamourizada. Eles se tornam heróis às avessas”, completou.

No Facebook, existem inúmeras páginas destinadas ao tema “uniformizadas”. A diferença é que o conteúdo delas é de responsabilidade exclusiva do administrador da fanpage, restando aos participantes comentar ou curtir as postagens. No grupo fechado Torcidas Organizadas, o material pode ser enviado por qualquer um dos membros. Não existe um filtro que limite o teor das publicações, o que o torna um barril de pólvora, com provocações e ameaças diárias entre facções rivais e coligadas.

Na teoria, o grupo até impõe regras aos seus participantes sobre o conteúdo das postagens. São cinco. Mas nenhuma é seguida à risca, sendo a de número 4 a mais descumprida: “Apologia à violência, comentários desnecessários e fotos de pessoas assassinadas não serão toleradas. O membro será banido no mesmo instante”. No entanto, fotos e vídeos de brigas ou de materiais roubados de uma facção rival são as que mais têm repercussão e, por isso, é o que mais se vê na página. Muitos integrantes se vangloriam de ter participado dos crimes. “Tem que respeitar muleke (sic). Aqui é cachorro doido”, escreveu um membro ao postar um vídeo de 42 segundos de uma briga com direito a pedradas e pauladas nas ruas de Natal entre organizadas do América-RN e do Bahia.

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