INFRAESTRUTURA II

Transposição, projeto polêmico do começo até a inauguração

As primeiras da água da transposição chegam à Paraíba, mas o Ministério Público Federal está de olho na gestão da água

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 11/03/2017 às 15:23
Foto: Jamildo Melo/NE 10
As primeiras da água da transposição chegam à Paraíba, mas o Ministério Público Federal está de olho na gestão da água - FOTO: Foto: Jamildo Melo/NE 10
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Depois de quase 10 anos do início das obras, a água do Eixo Leste, um dos canais da transposição do Rio São Francisco, chega à Paraíba em meio a questionamentos do Ministério Público Federal. O MPF em Monteiro deseja ter certeza da segurança dos açudes que vão receber a água. São 12 reservatórios que vão acumular a água do Velho Chico somente no Eixo Leste, distribuindo para outros açudes já existentes. A transposição é a maior obra hídrica feita no País. A água é muito importante para o Cariri paraibano, que tem cidades populosas, como Campina Grande, e fica numa área que sofre constantemente com a seca.

A partir de Monteiro, na Paraíba, a água da transposição vai abastecer mais de 40 cidades daquele Estado. A desconfiança do Ministério Público não é em vão.

Como toda obra pública, a transposição teve períodos de bom andamento e paralisações. Uma parte dos canais começou a rachar muito antes de receber a água. Para completar, o reservatório de Barreiro, em Sertânia, foi inaugurado no último dia 25 de fevereiro para receber a água do Eixo Leste. Menos de uma semana depois, ocorreu um vazamento que provocou a retirada de 60 famílias da área, além da destruição de parte da PE-280, que ligava Sertânia ao distrito de Bom Nome, em São José do Belmonte.

Esse acidente também deixou claro que está faltando gestão no controle dessa água. Isso pode significar desperdício de um rio que já está em agonia. As vazões do São Francisco a partir do lago de Sobradinho, na Bahia, estão no menor nível desde a criação do reservatório no final da década de 70. No projeto, a transposição trabalharia com o conceito de segurança hídrica: distribuindo somente o necessário para os reservatórios. Mas por quê ? O índice de evaporação da água no Sertão é muito alto e pode ser que essa água fosse retirada do São Francisco somente para evaporar, se não houvesse um controle. Esse conceito de segurança hídrica do projeto parece que ficou no papel. Tanto é assim que o modelo de gestão está sendo discutido pelo governo federal, Estados e outros membros do Conselho Gestor do Projeto, de acordo com informações do Ministério da Integração Nacional.

Atualmente, a maior polêmica é como será a gestão dessa água para que não ocorram desperdícios. Ocorreram outras polêmicas.O apelo eleitoral da água é tão forte no Nordeste que, desde a semana passada, políticos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente, Michel Temer, brigam pela paternidade da obra. O primeiro projeto da transposição, só para contextualização histórica, vem do Brasil Império.

As primeiras obras foram iniciadas em 2007, no governo Lula, que enfrentou resistência de vários setores da sociedade. Ficaram a cargo do Exército, enquanto se terminavam as licitações para escolher as construtoras.

A obra hoje tem um orçamento de R$ 9,6 bilhões, mais do investimento inicial previsto de R$ 4,5 bilhões. Na época, a previsão era da conclusão dos canais até 2010.

Quase uma década depois do início das obras, o governo federal ainda está fazendo uma licitação para concluir o Eixo Norte que está com 94,52% de execução. A concorrência é para concluir os 140 quilômetros iniciados pela construtora Mendes Júnior, que depois do envolvimento na operação Lava Jato declarou não ter condições de continuar a obra em junho do ano passado. A previsão e de que o Eixo Norte seja concluído ainda em 2017.

Ao longo dos últimos 10 anos, muitas pessoas se manifestaram contra o projeto, incluindo atores globais, como Letícia Sabatella, que chegou a discutir com o então ministro da Integração Nacional Ciro Gomes. No meio do Sertão, em Cabrobó, uma greve de fome chamou a atenção da imprensa nacional e internacional.

Cercado de jornalistas, índios e moradores locais, o dom Luiz Flávio Cappio chegava a se pesar para mostrar que estava perdendo peso.

Alguns políticos da Bahia e Sergipe fizeram tudo para atrapalhar a transposição, conseguindo inclusive liminares da Justiça para que as obras não fossem iniciadas. O governo Lula derrubou todas. Os canais da transposição cortam algumas das terras mais férteis do Nordeste. Só como exemplo, a água do Eixo Norte vai chegar a um polo de fruticultura de Açu/Mossoró, no Rio Grande do Norte, em que alguns produtores tiram água do subsolo para cultivar melão. Lá, a expansão sempre foi limitada pela falta de água.

E PERNAMBUCO ?

E Pernambuco com isso? Como Estado "doador" e "receptor" de água, o Estado continuará servindo de passagem para a água até que seja concluída a Adutora do Moxotó, que capta a água do Eixo Leste em Sertânia e vai até Arcoverde. Ela será concluída no final deste ano, embora só tenha a capacidade de transportar cerca de 10% da água do Ramal do Agreste. Em Pernambuco, as duas principais obras complementares do Eixo Leste seriam a Adutora do Agreste e o Ramal do Agreste. A primeira deveria ter sido concluída em 2015, mas as suas obras ficaram praticamente paralisadas depois que o ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, rompeu com Dilma Rousseff para se candidatar a presidente. As liberações voltaram no governo Michel Temer. Já o Ramal do Agreste não saiu do papel.

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