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Petrobras se recupera, mas tem longo caminho até sustentabilidade

Empresa tomou várias medidas para se reerguer, como venda de ativos e revisão de política de preços

Da editoria de economia
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Publicado em 20/05/2018 às 5:34
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
Empresa tomou várias medidas para se reerguer, como venda de ativos e revisão de política de preços - FOTO: Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
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Após a tempestade, a Petrobras começa a navegar por mares menos bravios. A gigante do setor de petróleo do Brasil voltou ao topo do pódio das empresas de capital aberto mais valiosas do País. De acordo com estudo da consultoria Economática, entre dezembro de 2017 e este mês, o valor de mercado saltou R$ 142,8 bilhões. Como disse o presidente da Petrobras, Pedro Parente, o pior já passou. Porém, apesar de deslanchar em um momento propício, com a diminuição da dívida e o aumento do valor do barril do petróleo para US$ 80 após muitos anos, especialistas afirmam que a empresa ainda está fragilizada e tem um longo caminho pela frente para se recuperar totalmente.

“Do ponto de vista financeiro, a situação é bem melhor que há dois anos. Porém, ainda há um longo caminho para voltar a ser de fato uma empresa ‘blue chip’, com pouco risco, e recuperar o grau de investimento de antes da crise. Para isso, é preciso diminuir o nível de endividamento”, comenta o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edmar de Almeida.

A recuperação vem após muitos anos no centro de denúncias de corrupção, em que todos pagavam o preço pelo esquema descoberto na alta cúpula da estatal, inclusive os funcionários. “Houve um tempo em que a Petrobras era o orgulho do Brasil. Mas no auge da crise, havia uma recomendação não oficial para que a gente evitasse sair com o uniforme laranja na rua para não ter problemas. Hoje, acho que o cenário está mudando novamente. A população está entendendo que os autores da corrupção não são os funcionários padrão”, afirma um servidor que preferiu não se identificar.

Entre os fatores que ajudaram a Petrobras a se reerguer, está a diretriz de focar nas áreas de produção de petróleo e vender ativos não estratégicos, como fábrica de fertilizantes, para reduzir a dívida. Além disso, está o processo de governança implantado por Pedro Parente em 2016. “As pessoas olham para a questão gerencial e veem uma governança mais confortável, com horizontes mais claros e realísticos, desfazendo-se de ativos não rentáveis. Tudo isso tem efeito sobre como o mercado enxerga a empresa”, explica o professor do departamento de economia da Universidade Federal de Pernambuco, Marcelo Eduardo. O projeto de desinvestimento da Petrobras prevê alcançar US$ 21 bilhões com a venda de ativos até o fim deste ano.

Outra mudança importante foi a revisão da política de preços praticados nas refinarias. Com isso, a companhia passou a seguir as cotações internacionais para obter maiores rendimentos sobre os combustíveis. A regulamentação pode trazer garantias para possíveis parceiros privados atraídos pelo ciclo de desinvestimentos da estatal.

Neste processo, a Petrobras também conta a sorte. O preço do barril de petróleo aumentou por causa da expectativa do mercado quanto à possibilidade de os Estados Unidos implantarem sanção ao Irã relativa à exportação do produto.

REFINARIAS

Nos planos da empresa, está a venda de 60% da participação acionária de quatro refinarias no Nordeste e no Sul do País, o correspondente a 25% da atual capacidade de refino do Brasil. Na lista, está a Refinaria Abreu e Lima, em Suape, avaliada por US$ 20,1 bilhões e ainda incompleta mesmo após dez anos de obra, consequência dos escândalos de corrupção. A venda desses ativos quebraria o monopólio da Petrobras. Abrir o mercado para a participação de outros players pode trazer benefícios para o País para evitar políticas de controle de preços de combustíveis, como já ocorreu no passado, diz Almeida.

Para os funcionários, a medida traz indefinição, apesar de a empresa já ter dito que os trabalhadores poderão ser convidados a trabalhar com o novo parceiro privado ou migrar para outras áreas de atuação da Petrobras. “Não entendemos porque querem vender a refinaria. Todo mundo está muito apreensivo”, afirma uma funcionária que também preferiu não se identificar. Vários sindicatos de trabalhadores em todo o País, inclusive em Pernambuco, já aprovaram a greve. Amanhã, haverá protesto em frente à Refinaria Abreu e Lima, contra a privatização.

De acordo com o membro do Conselho Regional de Economia, Fábio Silva, a pressa para privatizar pode trazer prejuízo para a Petrobras. “As parcerias são importantes. A competição com empresas de fora é saudável, mas não dessa forma apressada e voltada para o curto prazo. Há iminência de novos leilões para reforçar o caixa do governo, o que é ruim neste momento em que a própria Petrobras está fragilizada e talvez não possa ser um agente mais importante, limitado pelas próprias condições financeiras”, afirma Silva.

Olhando para o futuro, o mais importante é a autonomia da estatal. “A maneira como o próximo governo vai tratar essa questão vai definir o tempo em que a Petrobras vai se recuperar. Se voltar a controlar o preço, vai interferir na geração de caixa e na valorização dos ativos que quer vender para diminuir a dívida”, afirma Edmar de Almeida.

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