ARTES PLÁSTICAS

A Clarice Lispector que se revela nas pinturas

Os quadros da escritora são tema de livro do pesquisador português Carlos Mendes de Sousa, lançado agora no Brasil

Diogo Guedes
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Publicado em 02/06/2013 às 6:19
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Os quadros da escritora são tema de livro do pesquisador português Carlos Mendes de Sousa, lançado agora no Brasil - FOTO: Divulgação
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“Pinto tão mal que dá gosto”. Como tudo na obra da escritora Clarice Lispector, a frase acima sugere uma dualidade que não é fácil de se resolver: a escritora sabe que não é boa em compor quadros, em criar imagens, mas (talvez justamente por lhe faltar técnica) sente prazer na atividade.

A relação de Clarice com a pintura é a que mais se aproxima do teor pulsante da sua criação literária entre as outras artes – ainda que, claro, o resultado final não seja comparável. Em Clarice Lispector – pinturas (Rocco, 272 páginas, R$ 40), do pesquisador português Calos Mendes de Sousa, lançado agora, é possível ver não só como as artes plásticas, a reflexão sobre os quadros e a amizade com pintores eram uma parte relevante da sua vida, mas como o ato de pintar foi fundamental para sua criação literária em determinado momento.

O livro traz um apanhado das obras plásticas que a artista fez, numa espécie de abstracionismo naïf. Sousa, na obra, mostra a pintura como tema literário, notadamente no fim da vida, e o pintar como uma liberdade dentro da arte, quando a escrita dela havia se tornado apenas uma fonte de angústia. Ele Sousa diz no livro que, ao pintar, Clarice buscava “um modo de se interrogar no interior do ato criativo”, algo mais próximo de trazer paz e catarse do que a investigação das sombras de sua literatura. Era, então, sua forma mais pura de se expressar.

“É difícil desligarmos a vasta produção literária de Clarice desta sua faceta como pintora ocasional. Existe uma inter-relação estreita e é por isso que os livros ajudam a ver melhor os quadros. Estamos diante de duas faces de um mesmo processo, o processo criativo de Clarice”, explica ao JC o pesquisador português, autor também de Figuras da escrita, obra fundamental sobre Clarice.

O americano Benjamin Moser, autor de Clarice,, destaca que as pinturas a escritora são um testemunho da sua ousadia. “Vemos a luta, vemos o desafio, vemos os fracassos. Vemos uma grande artista tentando se exprimir numa arte que não é a sua”, comenta, em entrevista por e-mail. O biógrafo discorda que os quadros sejam uma parte irrelevante da obra da autora: “Ela detestava as pinturas dela, mas o que vemos lá é o que vemos em certos contos dela. Lembro-me de alguém que falou que o conto dela O búfalo era ‘todo feito de entranhas’. As pinturas também”.

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