Homenagem

Roberto Rossi: de filho para pai

Filho do cantor Reginaldo Rossi foi escolhido para interpretar o pai quando jovem; A emoção tem sido tremenda

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 13/08/2017 às 5:00
Foto: RTV Produções/Globo Nordeste/Cortesia e Guga Matos/JC Imagem
Filho do cantor Reginaldo Rossi foi escolhido para interpretar o pai quando jovem; A emoção tem sido tremenda - FOTO: Foto: RTV Produções/Globo Nordeste/Cortesia e Guga Matos/JC Imagem
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“Esse é um doce de garoto. (...) O Betinho não me deu muito trabalho não. Ele tá dando trabalho agora, sabe porquê? Porque ele estudou nos Estados Unidos, formou-se nos Estados Unidos, eu gastei dinheiro, mandei dinheiro pra caramba. E agora ele voltou pro Brasil e cismou de ser ator! (...) E pelo amor de Deus, senhores empresários, produtores, diretores, olhem pelo meu filho!”

Foi assim, arrancando risos como sempre, que o rei Reginaldo Rossi definiu seu filho único, o jovem Roberto Rossi. A declaração foi feita em sua última aparição pública na televisão – no Encontro com Fátima Bernardes, na Globo – pouco mais de dois meses antes de deixar o Brasil triste com sua dolorosa partida, no final de 2013, por falência múltipla dos órgãos em decorrência de um câncer no pulmão.

Enquanto o público ficou órfão do artista, Roberto, então com 35 anos, enfrentou a pior das dores enquanto se é filho: a perda de um pai. “Para mim nunca existiu essa distância do ícone do brega ou da música popular. Ele sempre foi simplesmente meu pai”, afirma Roberto, em entrevista ao Jornal do Commercio.

Hoje, aos 38 anos, o ator mora no Rio de Janeiro há 13. Formou-se como artista em 2007 pela Casa das Artes das Laranjeiras (CAL) e é conhecedor de técnicas como dança, música, canto, violão e acrobacia aérea. Com longa experiência no teatro e participações em novelas como Tempos Modernos (2010) e A Vida da Gente (2011), ele recebeu recentemente um grande desafio: reviver seu pai jovem, no filme Reginaldo Rossi, Meu Grande Amor, uma coprodução da Globo Nordeste, RTV Produções e Globo Filmes dirigida por José Eduardo Miglioli, com estreia prevista para o fim deste ano.

CONVITE

“O convite veio do nada. Já vinha conversando com a Carol Carvalho (produtora executiva do filme) e havíamos combinado um encontro entre o Zé Eduardo e eu. Oportunamente, ele estaria no Rio para divulgar o filme Chico Science – Caranguejo Elétrico (2016), também dirigido por ele, e que estaria no Mimo Festival. Nunca havíamos nos visto antes. Quando nos demos conta, havíamos conversado por horas a fio. Acredito que depois desse encontro foi que brotou a ideia na cabeça deles. Pouco tempo depois, compartilharam comigo e me fizeram o convite”, conta o ator.

Com roteiro assinado por Hélder Aragão, o DJ Dolores, Roberto diz que pouco interferiu na história proposta, nem adicionou detalhes a seu personagem. “Eu colaborei apenas dando o meu ponto de vista de quem acompanhou muita coisa de camarote. Também não houve adição de nuances. Até porque não caberia uma assinatura do meu ator à personagem, uma vez que o Rossi Jovem é alegórico, imagético e representa apenas o que seria a lembrança dele próprio, o meu pai, dos momentos que ele viveu”, explica.

O ator também contou um pouco da rotina de gravações do filme. “Cheguei ao Recife uma semana antes de filmar a minha parte. Tivemos uma ou duas reuniões e depois passei uns dois dias meio que isolado com o meu diretor, apenas conversando sobre todo o universo que rondava meu pai à época. Depois partimos pro set”, comentou.

“É um documentário, mas pensamos em ficcionar algumas coisas para fugir da linguagem de TV e buscar um caminho talvez um pouco mais rebuscado” disse José Eduardo Miglioli, em entrevista ao JC publicada no dia 14 de Fevereiro. “O que tem de original nesse projeto é que ele foge do brega. A gente tá abordando mais pelo lado pop, roqueiro que ele era”, adiantou o diretor.

A RELAÇÃO

Mesmo com a responsabilidade de apresentar um Reginaldo mais abstrato na tela grande, houve momentos desse trabalho em que o Roberto Filho falou mais alto que o Roberto Ator: “As cenas que envolveram música me exigiram mais. Minha diversão com meu velho era consumir música e essa sempre foi a nossa língua, estivéssemos tocando ou apenas ouvindo. Então, executar ou participar da execução de qualquer música do meu pai sempre irá me tocar de uma forma mais profunda”, revela.

Tentamos arrancar de Roberto Rossi se há alguma música do pai que o define, mas ele preferiu ampliar o leque de opções. “Sou uma colcha de retalhos das músicas do meu pai. Pra todos os momentos haverá uma música que irá caber. E para cada momento específico existirá uma música que poderá ser trilha sonora”, respondeu espertamente, sem citar uma canção específica.

O fato é que a grande fama do pai Reginaldo Rodrigues dos Santos pouco lhe afetou como pessoa. Entre Roberto e o cantor, o ator resume as semelhanças e diferenças entre eles de forma simples e direta: “Somos igualmente teimosos e diferentemente metódicos”.

Roberto é filho único de Reginaldo Rossi e Celeide Neves, que viveram juntos por 41 anos. A companheira inseparável do Rei também deixou este mundo menos de oito meses depois da partida do cantor, vítima de um infarto.

Ao filho, ficou a certeza que o amor dos dois foi a fonte de suas maiores lições de vida. “Sinceramente, é impossível separar uma lição da outra e enumerar uma como sendo a maior. Tudo o que sou é parte meu pai e parte minha mãe. A maior lição é toda uma vida de lições. E sou eternamente grato por cada uma delas”, declara.

Para o filho do Rei do Brega, o amor à música é maior herança que ele deixou e pretende passar isso adiante quando chegar o seu momento de paternidade. A relação entre eles não deixou nenhuma lacuna ou algo por dizer. “Se há algo que posso marcar na minha lista como tendo sido feito nessa vida, essa coisa é: deixar claro aos meus pais o quanto eu os amo e admiro”, conclui o eterno “doce de garoto” Roberto Rossi.

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