CINEMA

O maior desafio de Sandra Bertini

Diretora do Cine PE fala das dificuldades que teve para montar a 21ª edição do Cine PE

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 23/06/2017 às 11:22
Marília Verônica/Divulgação
Diretora do Cine PE fala das dificuldades que teve para montar a 21ª edição do Cine PE - FOTO: Marília Verônica/Divulgação
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Nos seis meses em que o economista Alfredo Bertini esteve à frente da Secretaria Nacional do Audiovisual (SAv/MinC), a produtora Sandra Bertini ficou sozinha para preparar a 21ª edição do Cine PE: Festival do Audiovisual, que começa na próxima terça-feira (27), tendo como palco principal o Cinema São Luiz. E mesmo após a saída do marido da SaV, em dezembro passado, Sandra continuou no posto, pois na mesma época ele assumiu a vice-presidência do Sport Club do Recife, uma das paixões do casal. "É uma paixão que ele tem e uma paixão minha também. Antes de namorar com ele, eu já frequentava o Sport. Agora, Bertini está tentando construir o Museu do Sport, depois de viajar para conhecer outros museus de clubes de fora. É a contribuição dele ao presidente Arnaldo", revelou Sandra durante entrevista na TV JC, na tarde de ontem.

A outra paixão do casal, o Cine PE, completa 20 anos em 2017. Por mais de 10 anos, quando foi sediado no Centro de Convenções, o lugar ficou conhecido como "o Maracanã dos Festivais" pela quantidade de público que levava ao Teatro Guararapes. "Foi o primeiro festival importante que a gente teve. Vejo como uma trajetória vitoriosa. Tivemos muitos desafios, como o de encher o Teatro Guararapes, o que fizemos em 1998, quando exibimos Central do Brasil com Fernanda Montenegro sendo ovacionada por mais de 10 minutos. Acho que contribuímos para engrandecer o audiovisual do Nordeste e de Pernambuco", disse Sandra.

O JARDIM DAS AFLIÇÕES

Para realizar a edição deste ano, Sandra sofreu percalços que - paralelamente às dificuldades que o Cine PE vem enfrentando há uns bons anos com curadorias equivocadas e uma brutal perda de público - colocaram o festival em risco. Marcado para o mês passado, por duas vezes o evento teve sua data adiada: uma por causa da crise econômica, outra por causa da crise política que assola o País. No final do mês, sete filmes foram retirados por seus diretores em protesto contra a participação de O Jardim das Aflições, do pernambucano Josias Teófilo, um documentário que trata das ideias do filósofo Olavo de Carvalho, considerado um mentor da direita brasileira. "Existe essa dualidade muito forte na política. Uma coisa muito temerária para a economia e a nossa vida social. Festival para mim não tem bandeira, é cultura e diversidade, isso é o que eu sempre defendi. O filme do Josias está no festival porque ele foi selecionado. Acredito que você pode ver o filme e não concordar com as ideias de Olavo, mas refletir sobre elas", considerou a diretora do Cine PE.

Antes do segundo adiamento, a seleção de longas-metragens - o esteio de qualquer festival - já havia escolhido filmes estreados nos cinemas. Agora, com O Jardim das Aflições sendo exibido em alguns cidades, a seleção de longas ficou ainda mais capenga. Por isso, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema - Abraccine resolveu cancelar o Júri da Crítica porque a quantidade de filmes já vistos ultrapassou o permitido pelo estatuto da entidade.

FUTURO

Diante dessa programação tão pouco apetitosa, não será surpresa se o Cine PE amargar uma rejeição do público. O ineditismo quase sempre é o fator que leva mais pessoas aos festivais, pois todo mundo que alardear que viu o filme primeiro. Para Sandra, o futuro pode ser o uso do streaming. "Minha colega Valquíria Barbosa, do Festival do Rio, está pensando em possibilitar que as pessoas também assistam aos filmes por streaming e até votar neles. De repente, essa pode ser uma boa ideia para o futuro dos festivais, inclusive o do Cine PE", considerou Sandra.

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