Semiárido

Estado lança projeto para a caatinga pernambucana

A proposta prevê o uso de energia solar na produção de hortaliças e criação de tilápias, além de reflorestamento com plantas da caatinga

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 10/05/2018 às 9:51
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A proposta prevê o uso de energia solar na produção de hortaliças e criação de tilápias, além de reflorestamento com plantas da caatinga - FOTO: Foto: Cortesia
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Numa região de pouca chuva e muito sol, como o Semiárido pernambucano, não adianta brigar com o clima mas, sim, aprender a conviver com ele. E é exatamente essa a filosofia do projeto que será implantado no segundo semestre de 2018 em Ibimirim, no Sertão do Estado, para produção de tilápias e plantas da caatinga usando energia solar.

O experimento será realizado em uma área de 20 metros quadrados da escola do Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta) e poderá ser replicado para outros trechos do município na caatinga pernambucana. “Vamos instalar dez painéis fotovoltaicos e sob a área sombreada pelas placas ficarão os viveiros de peixes e a produção de hortaliças e plantas medicinais”, informa a climatologista e coordenadora do projeto, Francis Lacerda.

De acordo com ela esse é o primeiro sistema agrovoltaico sustentável da América do Sul. Quando estiver em funcionamento, os painéis solares vão acionar uma bomba para a água do tanque dos peixes – fertilizada pelos excrementos das tilápias – circular. Essa água será filtrada pelas plantas e retornará ao viveiro. “A perda do líquido é muito pequena”, ressalta a pesquisadora.

As placas começam a ser instaladas em junho e até julho o protótipo estará todo montado, diz Francis Lacerda, coordenadora técnica do Laboratório de Mudanças Climáticas do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Está previsto o cultivo de hortelã, rúcula, alface, taioba, bertalha, couve-folha, chapéu-de-couro, manjericão, coentro, espinafre, cebolinha, menta, tomate e alecrim.

Hortaliças e plantas alimentícias não convencionais (Pancs) de pequeno porte, como palma e mandacaru, sairão do viveiro direto para consumo. A proposta também prevê a produção de três mil mudas de árvores da caatinga até o fim deste ano e a realização de um mutirão no princípio de 2019 para o reflorestamento de trechos do Semiárido de Ibimirim com plantas nativas.

Alunos da escola do Serta, num trabalho voluntário, coletaram 990 mudas de umbu, taboril, mulungu, pereiro, tamarindo, ouricuri, mororó, braúna, imburana-de-cheiro, aroeira e moringa, que já estão em fase de germinação. As outras 2.010 mudas serão produzidas a partir de estudos do IPA e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Interação

O umbu, que faz parte da alimentação de moradores da caatinga, está ameaçado de extinção e pode desaparecer da natureza em 20 anos, se não houver replantio, alerta Francis Lacerda. Segundo ela, pesquisadores da UFPE estão identificando em laboratório o potencial medicinal e nutricional do umbuzeiro para o projeto. “Todos esses alimentos podem ser usados na merenda de escolas públicas da região.”

O sistema agrovoltaico trata água, alimentos e energia de forma harmônica. “Um interage com o outro criando um ciclo virtuoso de sinergia. Identificamos as potencialidades da região e queremos transformar realidades no semiárido, dando autonomia ao agricultor. O bioma da caatinga aprendeu na conviver com o clima, nós seres humanos também podemos nos adaptar à escassez de chuva”, sustenta Francis.

Nascido no IPA, o projeto foi desenvolvido com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no valor de R$ 420 mil. “A verba é suficiente para custeio e não financia compra de equipamentos. Conseguimos dez painéis fotovoltaicos com a empresa VertSol e estamos abertos a outras parcerias com a iniciativa privada”, declara Francis Lacerda.

Temperatura

Ela identificou na região do Araripe pernambucano aumento de quase cinco graus na temperatura de 1950 a 2015. Isso representa elevação de quase um grau a cada dez anos. Precisamos estar preparados para conviver com a caatinga, o semiárido e a aridez que está se instalando no local.” O projeto contempla oficinas de capacitação e o repasse de energia produzida pelas placas para a escola do Serta. Será fornecido um terço das necessidades do estabelecimento.

Francis Lacerda lidera uma rede de pesquisadores no País (Ecolume) para estudar o assunto. Além do IPA, Serta e UFPE, fazem parte da Ecolume o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Instituto Federal do Sertão, Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Sustentabilidade.

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